terça-feira, 22 de março de 2016

Do Direito à Cafeicultura



* Por Keli Jesus de Oliveira Gimenez

Sou mineira de Ibiá onde fui criada e morei até os meus 15 anos. Quando terminei o ensino fundamental, meu pai nos encaminhou para Uberlândia, onde concluí o ensino médio no Objetivo em 1998. Após algumas tentativas, fui aprovada em Direito em Franca/SP (no ano de 1999),  onde estudei e morei por seis anos. No transcorrer do curso, fui aprovada no processo seletivo do Banco Bradesco, como agente de negócios e previdência privada, tendo como público alvo os investidores na área de aplicações e investimentos CDB.

Fui aprovada no exame de Ordem no ano de 2004 e logo em seguida, fui para Palmas – Tocantins, onde atuei como consultora da Tesouraria da OAB por dois anos. Em 2007, retornei para MG, após ser aprovada no concurso público da Junta Comercial do Estado, como analista de gestão e direito empresarial, onde após três anos como servidora, fui promovida para o cargo de Superintendente do Escritório Regional de Uberaba, no ano de 2010.

Três meses depois, conheci o meu futuro esposo Almir Adriano Gimenez, nascido no interior de São Paulo na cidade de Votuporanga, que com seis anos de idade havia se mudado com a família para Cruzeiro da Fortaleza, onde começaram o cultivo de café no cerrado. Hoje o Grupo Gimenez Pai e Filhos possui quatro fazendas de café mecanizadas em Cruzeiro da Fortaleza, região produtora do Café do Cerrado e exportação, participante da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Cooxupé, na cidade de Serra do Salitre/MG.

Minha história como agricultora começou em novembro de 2014, onde lavramos a nossa união e sacramentamos o objetivo em vivermos até o fim de nossas vidas, pois hoje além de marido e mulher, somos amigos e parceiros, que apesar de alguns percalços da vida a dois, temos o amor e a finalidade em persistir no enlace matrimonial.

Como agricultora, tenho ainda pouca experiência em razão de que minha área de atuação profissional, consiste na militância do Direito, mas atualmente após me mudar para a região e fazenda de meu marido, o auxiliei por seis meses no escritório da Fazenda Fortaleza, onde é operacionalizada a certificação do café e suas aplicações e manejos agrícolas, para seu devido cultivo.

Após essa experiência através de uma indicação de um amigo, resolvi voltar à militância na minha área de atuação, ou seja, pelo Direito e assim, procurei o escritório de advocacia Andréa Oliveira Sociedade de Advogados, tendo como uma das áreas de atuação, a especialização em Direito do Agronegócio, para aprender a atuar com precisão e segurança na cafeicultura e hoje sou advogada associada, onde pretendo adquirir experiência na área de Direito do Agronegócio, para atuar e auxiliar na gestão da fazenda do meu esposo Almir Adriano Gimenez.

Desta forma, percebo na área de cafeicultura e agronegócios um amplo campo de atuação e crescimento, o que acredito com esforço e determinação, conseguirei alcançar meus objetivos juntamente com o Grupo Gimenez. Assim deixo o meu exemplo de agricultora iniciante e que confia no campo vasto das oportunidades dessa área de agronegócios ligados à cafeicultura.  

* Em homenagem a KELI OLIVEIRA neste mês das mulheres o Blog MAS - Mulheres Agricultoras de Sucesso publica um texto autobiográfico como reconhecimento pela sua história de sucesso

quinta-feira, 17 de março de 2016

Sonhos realizados


Por Elaine Castagine Silva


Tudo começou na minha infância onde meu pai e minha mãe sempre trabalharam no meio rural e, assim, meus irmãos e eu sempre estivemos em contato com a terra. Somos uma família de três irmãos e todos sempre trabalharam com nossos pais, tanto na agricultura quanto na pecuária.

Nossa vida não era fácil, pois morar na roça tem suas farturas, mas também suas dificuldades. Minha infância foi cercada de muita luta para que eu e meus irmãos pudéssemos estudar, mas infelizmente em um determinado momento tive que interromper meus estudos onde parei no segundo ano do ensino médio, mas o sonho de voltar a estudar não saiu de mim.

Me casei aos 16 anos e junto com meu marido permanecemos trabalhando com a terra e construímos uma família onde fui presenteada com dois filhos lindos e abençoados por Deus. No ano de 2012 tive a oportunidade de retomar meus estudos. Terminei o ensino médio e no mesmo ano prestei vestibular para agronomia, um sonho meu, mas também tenho certeza que era de meus pais que sempre me incentivaram e acreditaram que nunca é tarde para recomeçar.

O início do curso não foi nada fácil, pois a teoria na sua complexidade dificultava, mas que no decorrer do curso se mostrou necessária e de forma única enriqueceu o que eu vinha vivenciando ao longo de toda minha vida com minha família na lida com a terra.

Hoje vejo que não poderia ter escolhido curso melhor, já valorizava a lida na terra e o meio ambiente em si, mas estes três anos de agronomia reforçaram em mim a certeza de que a terra na sua complexidade e generosidade é um presente de Deus; a humanidade cabe a nós e cabe a nós seres únicos e herdeiros desta terra a responsabilidade de lidar com amor e preservar tudo que vem dela, ou seja, nosso alimento, nossas sombras frescas, a beleza do dia e da chuva, e ver com tudo isso a vida brotando daquela que tudo nos dá, ou seja, “terra” abençoada por Deus e humanidade.

Ainda permaneço hoje morando com meus pais e os ajudando na lida com a terra. Só tenho a agradecer pela chance de viver e ser feliz naquilo que me propus: ser uma agrônoma, mas além de tudo, ser uma cuidadora de nossa agricultura e do nosso meio ambiente.

Elaine Cristina Castagine Silva, mulher, filha, mãe, amiga, estudante e ser único de Deus.

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Em homenagem a ELAINE CASTAGINE neste mês das mulheres o Blog MAS - Mulheres Agricultoras de Sucesso publica este texto autobiográfico como reconhecimento pela sua história de sucesso

quarta-feira, 9 de março de 2016

DA LAVOURA A XÍCARA




Por Evanete Peres

Nasci com uma deficiência visual, não enxergo com um dos olhos. Passei pelo que hoje chamam “bulling” na escola. Diziam que eu “fritava o bife e olhava o gato”, o que rendeu muitas brigas e cabeças quebradas.

Quando estudava na universidade, a 400 km de casa, fato raro para uma mulher na década dos anos 1970, levei um tombo de motocicleta que deixou sequelas, me impossibilitando de ter filhos. A solução foi tranquila, encontrei um homem que já tinha dois filhos e que me deu quatro netos.Vivemos juntos há 35 anos eele sempre me incentivou a encarar todos os desafios.

Cursei Publicidade e Propaganda,fiz pós-graduação em Administração de Empresas e atuei nos mercados de São Paulo e Rio de Janeiro, basicamente no terceiro setor. Adoro gente!

A vida agitada e insegura do Rio de Janeiro, e a busca por qualidade de vida nos trouxeram para Araguari onde a minha família produzia café. Não cogitava trilhar esse caminho, mas meu pai colocou uma fazenda de café no meu colo e disse “toma que o filho é seu e você tem cinco anos para aprender a ser cafeicultora”. Grande desafio!

Tão difícil quanto aprender sobre café foi ser aceita e respeitada numa atividade essencialmente masculina e liderar um grupo de colaboradores, quase totalmente composto por homens. Porém, logo percebi que o que era dificuldade poderia se transformar em oportunidade.Num mundo totalmente masculino é mais fácil ser lembrada quando se é mulher. Sem dúvida!

Mais tarde, pela ordem natural das coisas, passei a gerir também a parte de meus pais,além de zelar pela qualidade de vida deles. É quando os pais se tornam filhos e nós filhos, por amor e gratidão nos tornamos pais de nossos pais!

As Fazendas se chamam Paraíso, e quando assumi, a sede era muito feia e triste, sem jardim e sem portão. Entretanto, os negócios iam bem até perdermos quase uma safra inteira numa chuva de granizo. Já tínhamos um jardim e portão, por decisão minha, mas não tínhamos recursos para tocar a próxima safra e, então percebi que os desafios iam além de se ter um belo jardim e um imponente portão.Passamos a depender de crédito bancário. Tornei-me especialista em gestão e em relacionamentos com bancos. Perdi o medo de dever.

Pessoalmente, para agravar a situação, descobri um câncer bastante raro que me custou três cirurgias e vigilância constante. Mas isso não me abateu e avisei o meu médico que, salvo se ele morresse antes, trimestralmente vamos nos ver nos próximos 20 ou 30 anos. O câncer também tem seu lado bom, põe cor na vida, ensina a valorizar tudo e cada momento, e faz a gente ter uma pressa louca de viver!

Mais uma vez tive que me superar e tinha pressa; os negócios não podiam parar e passei a preparar meus principais colaboradores para terem mais capacidade de decisão e me suprir em um eventual problema.

Ninguém sabe tudo e nem faz nada sozinho; se cercar de profissionais especializados é fundamental para se obter bons resultados. Por isso conto com quatro consultores, cada um responsável por uma área de atuação, e a sinergia e o comprometimento dos meus colaboradores são fundamentais. Conto com um grupo enxuto que está comigo há muito tempo e que constroem nossas realizações.

Voltando aos negócios, precisava agir. Decidi buscar a certificação das fazendas visando agregar valor a produção. Fomos precursores de certificações no Cerrado Mineiro e hoje as fazendas têm cinco certificações internacionais.

Tenho hoje a consciência de que a gestão do negócio não se limita “da porteira para dentro”. Gargalos e desafios também estão “da parteira para fora”. Assim é fundamental estar constantemente antenada com tudo o que acontece a nossa volta, como por exemplo, os aspectos políticos, econômicos, legais, sociais, tecnológicos e ambientais.

Sempre me preocupei em acompanhar às necessidades de mudanças tecnológicas e assim, decidi modernizar os equipamentos eadotei ações sustentáveis como, o uso racional da água na irrigação,a reciclagem do lixo e o monitoramento de matas e dos animais silvestres.Hoje temos também um campo experimental visando buscar as melhores variedades adaptadas para a Região do Cerrado.

Desenvolvi um projeto social com a escola municipal de ensino básico que fica próximaà fazenda. A escola éfrequentada por filhos dos meus colaboradores e de colaboradores de outras propriedades, alémdefilhos de pequenos produtores do entorno. Oprojeto chamado “Sementes do Futuro” consiste na valorização do homem do campo e sua nobre tarefa de alimentar o mundo, cuidados com meio ambiente, higiene e saúde, técnicas de manejo da cultura do café,garantindo a sustentabilidade e o fortalecimento dos valores das famílias rurais.


Entendendo a complexidade do setor, bem como as oportunidades que ele oferece,sou parte da Diretoria da Coocacer-Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado-Araguari, onde armazeno, preparo e comercializo o que produzo.Assim atuona parte intermediária da cadeia café e visando completar essa cadeia, criei com mais três sócios a Nuance Cafés Especiais, uma torrefação com foco em qualidade.

Tenho outras atividades como: Conselheira Administrativa da Federação dos Cafeicultores da Região do Cerrado Mineiro, desde o seu início. Além disso, sou Diretora da Associação Comercial de nossa cidade e participei da criação e da organização, pornove edições, da FENICAFÉ, até hoje, um dos maiores eventos da cafeicultura brasileira.

Sou membro da WEAmericas - Mulheres Empreendedoras das Américas e do Caribe, desde o início, em 2012. É um grupo criado pelo Departamento de Estado Americano, idealizado pela Sra. Hilary Clinton, com o objetivo de integrar, qualificar e promover a troca de experiências dessas mulheres. Foram escolhidas em média três representantes de cada país. O convite e a escolha partiram do Departamento de Agricultura da Embaixada Brasileira. Sou a única produtora de café da WEAmericas e tenho a honra de poder divulgar a Região do Cerrado Mineiro e sua história de sucesso nesse grupo.

Desenvolvi um projeto que tem como objetivo sensibilizar pessoas de fora da atividade cafeeirae mostrar como é uma fazenda de café, como permanecer num negócio que nem sempre é remunerador, que exige muito investimento, cuidado, trabalho, dedicação e acima de tudo muita paixão.

Recebo grupos de estudantes universitários de vários cursos, visitantes estrangeiros, e a última visita que recebi era de um grupo composto por deficientes visuais, uma experiência fantástica e emocionante. Descrever para eles os equipamentos e os processos da lavoura e da colheita de café de maneiraclara e agradávelfoi um desafio muito gratificante. Não são as limitações que nos dificultam a vida e sim, os limites que nós nos impomos.

Ter seu trabalho reconhecido é o que todo ser humano almeja. Escolhida pelo seu presidente, recebi do CNC-Conselho Nacional do Café, a comenda “Mérito Agropecuário” no ano passado.

Vinte anos atrás, não imaginava que o café me faria tão feliz e realizada, mas não pense que paro por aqui, tenho grandes planos para o futuro. Afinal, nesta atividade, estou presente da lavoura a xícara.