quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Eles por elas: homens em prol da liderança feminina no agro



O agro vem se mostrando cada vez mais aberto ao diálogo e muitas empresas e fazendas estão levando a sério o assunto e apoiando a entrada de mulheres nas posições de liderança

Na luta pela igualdade de gênero, os homens têm um importante papel a exercer, visto que majoritariamente ocupam as posições de poder e liderança na nossa sociedade, que infelizmente ainda é muito machista e desigual. Não à toa, a ONU Mulheres criou, em 2014, o movimento #HeForShe (ElesPorElas), com a ambiciosa missão de garantir o compromisso de 1 bilhão de homens e meninos em apoiar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres.

Nos últimos tempos o assunto “liderança feminina no agronegócio” está cada vez mais em foco e, em que pese tenhamos muitos exemplos memoráveis no agronegócio, o debate no setor é relativamente recente quando pensado de forma geral. No entanto, o agro vem se mostrando cada vez mais aberto ao diálogo e muitas empresas e fazendas estão levando a sério o assunto e apoiando a entrada de mulheres nessas posições, provando que juntos podemos construir uma sociedade mais igualitária. 

Dos exemplos que merecem destaque, temos o Lair Hanzen, atual presidente da Yara Brasil, que tive o prazer de conhecer pessoalmente durante um jantar em 2019 promovido pela organização do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio. Enquanto presidente da multinacional, ele conseguiu fazer da equidade de gênero um compromisso institucional: 



“Temos, globalmente, o compromisso com a equidade de gênero no qual é prioridade aumentar a proporção de mulheres em cargos de liderança. Os processos internos da área de RH, como recrutamento, gestão de desempenho, desenvolvimento de funcionários e planejamento de sucessão seguem esse compromisso inegociável com a diversidade. No mundo, a Yara pretende ter no mínimo 20% dos cargos de gestão compostos por pessoas do sexo feminino neste ano de 2020. Para 2025, a previsão é que este índice aumente para 25% em toda a companhia. No Brasil, cerca de 19% do quadro de funcionários é composto por mulheres, sendo que 14% delas ocupam posições de chefia. 

A cada ano, estes índices aumentam. Recentemente, em dezembro, a Yara Brasil assinou os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEP, sigla em inglês) da ONU. Estamos muito felizes por participar desta ação porque os WEPs orientam as empresas a adaptar as políticas existentes para a promoção da igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho, no mercado, em sua cadeia de valor e na sociedade de forma geral.”

+ Leia também

STF decide sobre tabela do frete e tributação de agrotóxicos em fevereiro

Este movimento é cada vez mais crescente nas multinacionais, como é o caso da BASF, que em 2019 ganhou a premiação WEP’s (Women’s Empowerment Principles) da ONU Mulheres, na categoria bronze. A empresa, além de possuir na sua diretoria a executiva Cristiana Xavier de Brito, grande exemplo de liderança feminina e autora do livro Mulher Alfa (que também foi uma das nossas entrevistadas no livro Mulheres do Agro); conta com o Antonio Lacerda, vice-presidente sênior de Químicos da BASF para América do Sul como um dos homens que apoiam a liderança feminina de forma efetiva:

“A equidade de gênero é um objetivo transversal na BASF. Por meio da nossa plataforma de diversidade, trabalhamos todos os dias para que tenhamos oportunidades iguais e um ambiente acolhedor e, de fato, inclusivo. Para atrair, desenvolver, promover e reter mulheres foi formado em 2017 o grupo Women in Business (WIB), do qual como membro do Comitê Executivo da BASF sou apoiador. 

As iniciativas deste grupo são lideradas coordenadas por um time composto de três mulheres e dois homens e tem como objetivo alcançar resultados concretos que mudem a realidade encontrada hoje ainda na maioria das empresas. 

Aqui na BASF, as mulheres representavam 30% do quadro de colaboradores na América do Sul em 2018, sendo que, em posições de liderança, a participação feminina é de 29% na região. Nossa aspiração maior é sermos tão diversos quanto a sociedade em que estamos inseridos, o que em nossa visão é fundamental para inovar em produtos e soluções para clientes e para necessidades variadas.”



Se algumas pessoas nem imaginavam que “antes da porteira” teríamos um movimento tão forte como os destacados anteriormente, é “dentro da porteira” que vemos cada vez mais casos de liderança na prática e foi inclusive isso que mostramos no livro “Mulheres do Agro”. E é inclusive por ele que o caso do Nelore do Golias merece um grande destaque, não só pela atuação inspiradora da Lilica, que foi uma das nossas entrevistadas cuja história é contada no livro, mas também pela forte presença do seu marido Fabio Almeida, que é um exemplo a ser seguido por outros produtores rurais.

Como ele mesmo sempre faz questão de mencionar, o caso do Nelore do Golias é diferente em todos os sentidos esta pode ser considerada a “fórmula do sucesso” da Fazenda:  

“Aqui na Fazenda temos um caso atípico: sempre foram peões que lidavam com o gado, temos uma equipe de 5 peões e no início de 2019 contratamos uma peoa (a Isabela), que comanda toda a parte de cocheiras e que trabalha lado a lado com os peões na lida, de igual pra igual! E quando temos visitas na Fazenda, as pessoas ficam espantadas de vê-la na lida. ”

Na fazenda localizada em Araçatuba (SP) podemos ver mulheres em cargos de liderança nas mais diversas áreas: da gestão da fazenda à cozinha onde o doce de leite e requeijão são produzidos para fins comerciais, a pluralidade é motivo de orgulho do produtor:

“A mulher é muito observadora. […] Elas são muito eficazes nos detalhes e não têm medo de perguntar… Eu percebo isso no dia-a-dia: A Lilica pergunta as coisas… vai sempre na alma da questão! O homem às vezes fica com medo de perguntar […] O Nelore do Golias já nasceu com a liderança da Lilica, então somos um caso meio à parte!”



Partindo para a outra ponta da cadeia produtiva, conhecida como “fora da porteira”, podemos citar o exemplo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), a convite da qual, no final de 2019, no ciclo de palestras do seu XXXVIII Jantar, tive o prazer de palestrar sobre a presença feminina no agronegócio. Tema que seu atual presidente, Luciano Menezes de Souza, está procurando fomentar cada vez mais na ANEC e na ADM do Brasil: 

“Nosso setor avançou e avançará muito mais diante dos melhores resultados que a presença feminina tem mostrado consistentemente. Nós temos a presença feminina em quase todas as áreas e níveis e nos traz claramente um ambiente mais respeitoso, equilibrado, mais focado, com  melhor qualidade na comunicação e com resultados financeiros também melhores.  Mas o que realmente fazemos é trabalhar muito para promover a diversidade e quanto mais avançamos, os resultados respondem na mesma direção.”



A sociedade ainda tem um longo caminho pela frente, mas se pudermos contar com homens e mulheres empenhados a mudar o cenário atual, vamos chegar mais longe e fazer o Brasil ganhar um destaque, na busca pela igualdade de gênero, tão grande quanto o que ele tem no agronegócio mundial. 

E, para os demais homens do agro que queiram aderir à causa, ficam as dicas nos nossos inspiradores: 

“Os fazendeiros deveriam dar uma chance para a liderança feminina porque as mulheres têm diferenciais e em geral são mais observadoras e detalhistas e temos que aproveitar essas diferenças! ” (Fábio Almeida, produtor rural e proprietário do Nelore do Golias)

“Sugiro que considerem as mulheres para todas as posições e níveis e que conheçam as mulheres que já fazem do nosso agro um setor ainda mais forte e exitoso, parte delas brilhantemente homenageadas no Livro Mulheres do Agro. Uma ótima ideia que seguramente seguirá com novos e merecidos reconhecimentos. ” (Luciano Menezes de Souza, presidente da ANEC)

“Sempre destaco a importância de oferecer um ambiente de trabalho colaborativo e inclusivo, no qual colaboradores e colaboradoras se sintam valorizados por sua singularidade e seguros por serem quem são. Isso vale tanto para os homens quanto para as mulheres. Nosso argumento é que o ambiente inclusivo é benéfico para os negócios, pois incrementa a performance da nossa empresa e no ambiente de trabalho.” (Lair Hanzen, atual presidente da Yara Brasil) 

“Vivemos um momento de intensa transformação cultural, sendo que a liderança das mulheres e a participação dos homens nesta discussão aumenta e acelera essa mudança que precisa acontecer.” (Antônio Lacerda, vice-presidente sênior de Químicos da BASF para América do Sul)

(Ticiane Figueirêdo | Agroinspiradoras: Canal Rural)

Nenhum comentário:

Postar um comentário